Do outro lado...
Não sei o que está para lá das
muralhas deste castelo que me coube na rifa. Há dias que custa tanto abrir os
olhos e não te ver por cá. Não sei para onde foste, quando cruzaste o muro
empedrado. Passaste a fronteira, cedo demais – talvez seja sempre cedo. No
entanto, por mais que custe aceitar, não deixa de ser O momento.
Partiste num dia de Inverno. Será que
te apercebeste que tinha chegado o fim? Terás visto a tal luz ao fundo do túnel
– dizem que se vislumbra a vida em flashes.
Imagino que, com o avanço da tecnologia, esse portal para o outro mundo tenha também
evoluído e que os formatos sejam, hoje, mais sofisticados. Quem sabe, uma tela gigante
na qual se projecta um slide show com
os melhores momentos – uma espécie de best
of. Se a passagem assumir
contornos profissionais, não pode faltar uma banda sonora à altura.
Não sei o que está do outro lado desta
coisa a que chamamos vida. Viver é insólito,
até mesmo quando tudo acaba e não se faz a menor ideia do que sucede a seguir. O
que acontece a quem atravessa o paredão, nos derradeiros dias? Há quem diga que
não haverá nada mais e, assim sendo, somente um precipício, no qual não se
avista o fundo. E silêncio. Uma quantidade infinita de silêncio.
Por mais controladores e controlados
que sejam os dias, por mais certinho ou desvairado que seja o percurso, por mais
moedas de ouro que se conservem ou que se estoirem, no final, ninguém escapa. Além
disso, a passagem é solitária, não se pode levar um acompanhante para segurar
as tochas que clareiam o caminho.
O que fazes aí, do outro lado? Não sei
como passas os dias, longe de nós - tantas perguntas sem resposta, tanta
saudade sem consolo. Não sei. E quando não se sabe o que acontece, pode-se
imaginar, certo? - tudo cabe na mochila do imaginário. Há dias, por acaso – nada é por acaso – tropecei num dos vídeos
do documentário “Human” que me
deixou arrepiada com a naturalidade com que um homem que tinha enviuvado há
pouco tempo se referia à morte da esposa: - “A minha mulher mudou-se para o céu!”.
Sem dramas, como se tratasse de uma simples alteração de residência. E não será
apenas isso?
- Num refúgio bonito e cheio de paz é
onde te imagino. Não sei…
Nota: Este texto foi elaborado no âmbito do Desafio Celestices (#04). A fotografia fornecida por Nuno Galante serviu de ponto de partida e inspiração para a redação do texto.
______________________________________________________________________
Texto en Español
No sé lo que está por detrás de las paredes
de este castillo que me salió en la loteria. Hay dias que me cuesta mucho abrir
los ojos y no verte acá. No sé para donde fuíste, cuando cruzaste el muro
empedrado. Cruzaste la frontera, demasiado temprano – por ahi es siempre muy temprano
pero hay que aceptarlo porque es EL momento.
Te fuiste en un dia de Invierno. ¿Te diste
cuenta que habia llegado el final? Has visto la luz en el fondo del túnel – dicen
que se ve la vida em flashes.
Imagínese que, con el avanzo de la tecnología, este portal para el otro mundo
también ha evolucionado y que los formatos son, hoy, más sofisticados. Quien
sabe, una pantalla gigante con la proyección de una presentación de
diapositivas con mejores momentos - una especie de “mejor de”. Para ser
completamente profesional, no puede faltar una banda sonora.
No sé lo que está del otro lado desta cosa a que llamamos vida. Vivir es
insólito, hasta mismo cuando todo termina y no nos hacemos la menor idea de lo
que sucede despues. ¿Qué pasa a quien pasa para el otro lado, en sus ultimos
dias? Hay quien diga que no hay nada más que y, que se asemeja, solo un
precipicio, en el cual no se avista el fondo. Y silencio. Una cantidad infinita
de silencio.
Por más controladores y controlados que sean
los dias, por mas cierto o loco que sea el camino, por mas monedas de oro que
se ahorren o que se gasten, en el final, nadie escapa. Además, es algo
solitario, no se puede llevar un acompañante para el alumbrar el camino.
¿Qué haces ahí, del otro lado? No sé como
pasas los días, lejos de nosotros - tantas preguntas sin respuesta, tanta
nostalgia sin contencion. No sé. Y cuando no se sabe, se puede imaginar, cierto?
- todo entra en la mochila del imaginario. Hace unos dias, por casualidad – nada es por casualidad – encontré uno de
los videos del documental "Human" * que me ha emocionado por la naturalidad
con que un hombre que habia enviudado
recientemente hablaba de la muerte de su esposa: "Mi mujer se mudó para el
cielo!". Sin dramas, como si fuera una simple mudanza de residencia. E no sera
solamente eso?
- En un refúgio bonito y lleno de paz es
donde te imagino. No sé…
* Vídeo: https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=wQpSfc2RhQg
Nota: Este texto fue elaborado en el âmbito del Desafio Celestices (#04). La foto de Nuno Galante fue la inspiracion para la escritura.
Nota: Este texto fue elaborado en el âmbito del Desafio Celestices (#04). La foto de Nuno Galante fue la inspiracion para la escritura.
Comentários
Enviar um comentário