Do outro lado...

Não sei o que está para lá das muralhas deste castelo que me coube na rifa. Há dias que custa tanto abrir os olhos e não te ver por cá. Não sei para onde foste, quando cruzaste o muro empedrado. Passaste a fronteira, cedo demais – talvez seja sempre cedo. No entanto, por mais que custe aceitar, não deixa de ser O momento.

Partiste num dia de Inverno. Será que te apercebeste que tinha chegado o fim? Terás visto a tal luz ao fundo do túnel – dizem que se vislumbra a vida em flashes. Imagino que, com o avanço da tecnologia, esse portal para o outro mundo tenha também evoluído e que os formatos sejam, hoje, mais sofisticados. Quem sabe, uma tela gigante na qual se projecta um slide show com os melhores momentos – uma espécie de best of. Se a passagem assumir contornos profissionais, não pode faltar uma banda sonora à altura.


Desafio#04 (Nuno Galante)
Autoria da Fotografia: Nuno Galante

Não sei o que está do outro lado desta coisa a que chamamos vida. Viver é insólito, até mesmo quando tudo acaba e não se faz a menor ideia do que sucede a seguir. O que acontece a quem atravessa o paredão, nos derradeiros dias? Há quem diga que não haverá nada mais e, assim sendo, somente um precipício, no qual não se avista o fundo. E silêncio. Uma quantidade infinita de silêncio.

Por mais controladores e controlados que sejam os dias, por mais certinho ou desvairado que seja o percurso, por mais moedas de ouro que se conservem ou que se estoirem, no final, ninguém escapa. Além disso, a passagem é solitária, não se pode levar um acompanhante para segurar as tochas que clareiam o caminho.

O que fazes aí, do outro lado? Não sei como passas os dias, longe de nós - tantas perguntas sem resposta, tanta saudade sem consolo. Não sei. E quando não se sabe o que acontece, pode-se imaginar, certo? - tudo cabe na mochila do imaginário. Há dias, por acaso – nada é por acaso – tropecei num dos vídeos do documentário “Human” que me deixou arrepiada com a naturalidade com que um homem que tinha enviuvado há pouco tempo se referia à morte da esposa: - “A minha mulher mudou-se para o céu!”. Sem dramas, como se tratasse de uma simples alteração de residência. E não será apenas isso?

- Num refúgio bonito e cheio de paz é onde te imagino. Não sei…


Nota: Este texto foi elaborado no âmbito do Desafio Celestices (#04). A fotografia fornecida por Nuno Galante serviu de ponto de partida e inspiração para a redação do texto.   
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Texto en Español


No sé lo que está por detrás de las paredes de este castillo que me salió en la loteria. Hay dias que me cuesta mucho abrir los ojos y no verte acá. No sé para donde fuíste, cuando cruzaste el muro empedrado. Cruzaste la frontera, demasiado temprano – por ahi es siempre muy temprano pero hay que aceptarlo porque es EL momento.

Te fuiste en un dia de Invierno. ¿Te diste cuenta que habia llegado el final? Has visto la luz en el fondo del túnel – dicen que se ve la vida em flashes. Imagínese que, con el avanzo de la tecnología, este portal para el otro mundo también ha evolucionado y que los formatos son, hoy, más sofisticados. Quien sabe, una pantalla gigante con la proyección de una presentación de diapositivas con mejores momentos - una especie de “mejor de”. Para ser completamente profesional, no puede faltar una banda sonora.

No sé lo que está del otro lado desta cosa a que llamamos vida. Vivir es insólito, hasta mismo cuando todo termina y no nos hacemos la menor idea de lo que sucede despues. ¿Qué pasa a quien pasa para el otro lado, en sus ultimos dias? Hay quien diga que no hay nada más que y, que se asemeja, solo un precipicio, en el cual no se avista el fondo. Y silencio. Una cantidad infinita de silencio.

Por más controladores y controlados que sean los dias, por mas cierto o loco que sea el camino, por mas monedas de oro que se ahorren o que se gasten, en el final, nadie escapa. Además, es algo solitario, no se puede llevar un acompañante para el alumbrar el camino.

¿Qué haces ahí, del otro lado? No sé como pasas los días, lejos de nosotros - tantas preguntas sin respuesta, tanta nostalgia sin contencion. No sé. Y cuando no se sabe, se puede imaginar, cierto? - todo entra en la mochila del imaginario. Hace unos dias, por casualidad – nada es por casualidad – encontré uno de los videos del documental "Human" * que me ha emocionado por la naturalidad con que un hombre que  habia enviudado recientemente hablaba de la muerte de su esposa: "Mi mujer se mudó para el cielo!". Sin dramas, como si fuera una simple mudanza de residencia. E no sera solamente eso?


- En un refúgio bonito y lleno de paz es donde te imagino. No sé…


* Vídeo: https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=wQpSfc2RhQg

Nota: Este texto fue elaborado en el  âmbito del Desafio Celestices (#04). La foto de Nuno Galante fue la inspiracion para la escritura.

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